quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Vida de gordo

A dieta segue o seu caminho. Tive uma bela recaída no final de semana. Fui pra praia com uma amiga e bebi em quantidades industriais. E o álcool, como já comentei, além de ser calórico, me deixa com uma fome louca no dia seguinte. O resultado foi que na segunda-feira eu estava 1,3 kg mais gorda do que na sexta. Fiquei puta. A mini-vitória foi que eu consegui retomar a dieta durante a semana (e essa sempre foi minha maior dificuldade) e já perdi 1 kg depois disso. Mas deu um atraso de 5 dias na vida. A lição da semana é que dá para enfiar meio pé na jaca uma noite de vez em quando, mas não um final de semana inteiro. Bom, agora é bola pra frente.

Nesta semana, porém, não queria falar da minha dieta nem de quanto emagreci ou deixei de emagrecer. Vou contar um pouco sobre como é ser gordo, como é a vida de um gordo. E vou dizer que este post está na categoria "coisas-inconfessáveis-com-grande-potencial-de-me-deixar-constrangida".

Ao longo desses muitos anos de excesso de peso eu fui anotando mentalmente todos os males que o gordo sofre. Alguns são bem evidentes, como a estética e a saúde. Outros são muito mais sutis.

Vou listar aqui tudo o que eu me lembro, mesmo aquelas coisas que me causam constrangimento de dizer, começando pelas mais óbvias e seguindo pelas menos evidentes.

Vamos lá.

  • A saúde - Quando eu estava de licença-maternidade, em 2008, fiz os exames básicos de colesterol, glicemia, triglicérides. Estava tudo beleza, como sempre. Em 2011, com 110 kg, fiz um check up. Não estava mais tudo beleza. No ano passado fiz de novo. Continuava alto. Não super alto, mas acima dos níveis normais. O médico disse com todas as letras que era o peso e a alimentação de forma geral. Nem precisava dizer, né? Eu posso ser gorda, mas não sou burra. Aliás, isso é uma coisa que sempre me impressiona: por que diabos alguém vem te dizer que você precisa emagrecer? Por acaso a pessoa acha que você não tem espelho, não percebe que tá gordo, não vê que suas roupas não servem mais? Pelamor, deixem o gordo em paz! Ele só vai deixar de ser gordo quando ele mesmo tomar a decisão. Quando não for este o caso, você só vai constrangê-lo.
  • A estética - Sabe aquela roupa linda que você viu na revista, com um visual que é a sua cara (ou que você imagina que seja a sua cara)? Então, você não vai poder usar, porque aquela roupa não existe do seu tamanho. Ou, mesmo que exista, quando você vesti-la, logo vai perceber que no seu corpo o efeito é bem diferente daquele que você tinha visto na sua amiga maravilhosa. Além disso, acho que existe algum manual que circula pelas confecções e que determina que, quando uma pessoa engorda, ela também cresce. Então a pobre gordinha baixinha, que é a que mais existe no mundo, é obrigada a conviver com mangas compriiiiiidas, ombros larrrrgos e calças compriiiiiidas.
  • Opções - As lojas de roupa pra gente "normal" vão até o 44. No máximo até o 46 e ainda assim só algumas. Então você tem que comprar em lojas de roupa pra gordo. Não são muitas e, em geral, as roupas são medonhas e só caem no gosto daquele tipo de mulher que compra aquelas joias que são vendidas pela televisão, o Medalhão Persa, sabe qualé?
  • Limitações - As limitações físicas do gordo são muitas. Eu penso duas vezes antes de abaixar para pegar qualquer coisa que tenha caído no chão. Também penso duas vezes antes de comprar aquelas sandalinhas com fivelinha do lado, porque fechar aquilo é uma tortura. Não consigo me mover em restaurantes em que as mesas são apertadas, porque não caibo no espaço entre uma cadeira e outra. Você pode por conta própria pensar em outras situações impublicáveis em que o excesso de peso seja limitador.
  • A invisibilidade social - Sabe quando a galera se reúne e combina de ir para a balada, mas antes fazer um esquenta na casa de um deles? Pois é, há uma grande de o gordo não ser convidado. Não sei quantas vezes eu já vi isso à minha volta. Hoje em dia menos, porque estou mais velha, tenho filho, então já não seria convidada de qualquer jeito, mas antes... Era batata! Era como se eu não estivesse ali. Ou sabe quando a mulherada se reúne para falar de roupa, moda, maquiagem, outras mulheres etc.? O gordo também não é lembrado para participar dessas conversas.
  • O preconceito - Ao longo do tempo, ficou totalmente politicamente incorreto falar mal de qualquer classe de pessoas. Além de politicamente incorreto, é crime. Não pode haver discriminação de gênero, de raça nem de classe social. E, por mais preconceituosa que a pessoa seja no seu íntimo, dificilmente ela solta em público uma das suas barbaridades contra qualquer pessoa que preencha um dos requisitos que mencionei acima. Com gordo não é assim. As pessoas falam em alto e bom som para quem quer que seja que não gostam de gordo, que gordo é preguiçoso, que não contratou alguém porque era gordo ou que demitiu alguém porque era gordo, que todo gordo é infeliz e por aí vai. Além disso, parece que existe alguma coisa engraçada em ser gordo, que eu não sei bem o que é.  Quando alguém diz que fulano de tal é gordo, sempre vem acompanhado de uma risadinha. Juro que não entendo a graça, mas talvez o tópico seguinte ajude a esclarecer.
  • O engraçado - Ser engraçado é o antídoto contra a invisibilidade social. Olhe ao seu redor e veja quem é gordo. Você vai encontrar duas categorias: o tímido e o engraçado. Pense em quantos humoristas são gordos. Especialmente os mais antigos... Chega a ser caricato. Esse foi o meu caminho. Já tenho uma verve naturalmente piadista, mas não tenho a menor dúvida que o humor foi e continua sendo um meio de inserção social para mim.
É isso. Imagino que quem não é gordo possa achar que eu estou exagerando um pouquinho, mas tenho certeza de que quem é (ou foi em algum momento) vai se identificar. Acho inútil lutar contra o sistema e combater o estigma, o preconceito etc. Não quis fazer um post panfletário contra "tudo isso que está aí", não, só estou registrando as percepções que tive ao longo da vida em relação ao tema. Além do mais, os outros que se lasquem, né? Se tem uma coisa que aprendi com a geração Y é a ter uma auto-estima inabalável.

O próximo post será no dia 31 de janeiro, com um balanço de 1 mês de dieta. Conseguirei eu me manter firme e forte e emagrecer pelo menos o que havia me proposto?

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