sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

No fim, vai dar tudo certo?

Eu sou facilmente irritável. Me irrito quando as pessoas me cutucam, quando falam demais, quando falam alto demais, quando se apegam a discussões intermináveis pelo simples prazer de ouvir a própria voz, quando bagunçam minha estante de livros, quando me mandam fazer dieta (como se eu não soubesse o que precisa ser  feito), quando tentam empurrar seus trabalhos pra cima de mim... Enfim, me irrito fácil.

De toda a lista de "irritáveis", acho que tem uma que está no topo (talvez junto com os cutucões): a supervalorização do otimismo. As pessoas têm verdadeiro horror a problemas. Você começa a contar alguma coisa ruim que tenha acontecido com você e a pessoa logo tasca, muitas vezes cortando a sua narrativa, para não ter que ouvir mais nada: "Não se preocupe, no fim, vai dar tudo certo". E pronto, assim o problema vai para debaixo do tapete e todo mundo pode continuar a viver suas vidas.

Aprendi, ao longo dos anos, a dar uma boa maquiada no meu pessimismo. Já percebi que essa é uma característica sem lugar no mundo de hoje. Não sei explicar de onde ele vem, mas tenho algumas pistas. A primeira delas vem do meu total ateísmo. O fato de acreditar na transcendência é, por si só, um ato de otimismo e provê um consolo metafísico, a crença de que existe um plano maior, cuja totalidade não conseguimos compreender e aquela pequena desgraça que acaba de te acontecer é apenas um ato desse plano maior. Como não conhecemos o todo, interpretamos a parte como tragédia.

A segunda suspeita para explicar meu pessimismo é mais benevolente comigo mesma: eu sou simplesmente mais realista. No mundo real, muita coisa dá errado, existe mais chance de dar errado do que de dar certo e, portanto, o pessimista tem uma probabilidade maior de estar certo do que o otimista.

No entanto, para a maioria das pessoas, o otimismo é uma condição essencial para dar continuidade ao planejamento da vida. Ou seja: por que você financiaria um imóvel em 30 anos se achasse que ia ficar desempregado, que não conseguiria pagar a dívida? Por que faria um planejamento estratégico para a sua empresa se achasse que nenhuma ação teria resultado?

Faz sentido.

A contradição aqui é que meu pessimismo não é paralisante. Tanto que eu investi nos estudos, no trabalho, casei, tive filho, financiei um imóvel em 30 anos. O fato de achar que é muito difícil fazer as coisas darem certo não me impede de nada. Muito pelo contrário.

Beleza, esse foi um preâmbulo enorme para contextualizar o que vou dizer agora. Foi com esse estado de espírito que me mudei para a cracolândia. Vendo o que acontece aqui, é muito, mas muito difícil acreditar que a situação tenha solução. Na verdade, até tem. Mas seria preciso ter uma classe política completamente diferente da que temos. E isso, sim, eu acho muito difícil mudar.

Por outro lado, eu quero muito que as coisas melhorem por aqui. Não só porque, morando aqui, sou uma óbvia parte interessada, mas porque a região é muito legal e tem muitas qualidades. Mas o lixo, os noias e a degradação de forma geral se sobrepõem a tudo. Então sempre que vejo alguma coisa melhorando na região, a otimista que habita em alguma região profunda da minha alma vem à tona.

E isso aconteceu hoje. A capa do Divirta-se, o caderno semanal de entretenimento do Estadão, trata de um movimento chamado Baixo Centro, que congrega os diversos movimentos culturais da região e quer fazer um festival no centro em março. São mais de 20 movimentos, fazendo tanta coisa legal. E eu com a minha big fat ass sentada aqui.

Fiquei com muita vontade de participar. Fui lá e doei meu suado dinheirinho para tentar ajudar o festival a acontecer. Mas agora vou tentar dar aquele próximo passo e trabalhar um pouco pros caras. Será que eles precisam de uma jornalista especializada em investimentos? E mais: será que, no final, tudo vai dar certo?

A matéria do Divirta-se tá aqui e o blog do Baixo Centro, aqui.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Humano, demasiado humano

Quando começo a escrever um post, a decisão sobre qual será o título é binária: ou bem o título dá o tom do post ou escrevo o post e fico pensando qual será o título para ele. Normalmente gosto mais do que escrevi quando o título se impõe. É o caso deste (título e post).

Em algumas ocasiões acontece algum evento que demonstra como a aparente convivência harmoniosa da sociedade brasileira é só isso mesmo: aparente. Um fato qualquer desencadeia reações iradas que em geral são rapidamente classificadas como reacionárias ou, sei lá, esquerdistas. Os supostos reacionários chamam os supostos esquerdistas de baderneiros e os supostos esquerdistas chamas os supostos reacionários de... bem, de reacionários.

Me lembro rapidamente do episódio do metrô em Higienópolis. Uma moradora do bairro, de acordo com uma matéria da Folha, disse que não queria o metrô no bairro porque ele traria para a região uma "gente diferenciada", também conhecida como pobres. Depois o governo do Estado de SP decidiu que não faria o metrô naquele ponto, porque, segundo eles, ficou constatado que não seria o melhor ponto. Aí pronto: maior tumulto nas redes sociais, chamando para um churrascão da "gente diferenciada" na frente do shopping local. Mais do que o evento em si, fiquei impressionada com a virulência das opiniões.

Isso também me ocorre quando o assunto é o governo do PT. Quem odeia o PT e o Lula odeia mesmo. E, em geral, não fala da corrupção, das reformas que não foram feitas, de algumas péssimas escolhas que o governo do PT fez. Fala é que o Lula não sabe falar, que tem erros de português, que é um tosco, que odeia a tudo e a todos. Os simpatizantes do PT, por outro lado, nem conseguem avaliar o governo dele, mesmo após oito anos. Todas as falcatruas são perdoadas.

A essa altura, já deve ter gente me achando é muito arrogante, pois tanto foi dito por todo mundo a respeito dos dois assuntos, de forma que eu, do alto do nada que sou, jamais poderia acrescentar algo de novo ao assunto. Bom, provavelmente é verdade, mas, como o blog é meu e eu estou com vontade de escrever, vou escrever. Lê quem quer. Quem não quer tem mais um zilhão de opções (aliás, a cada post que passa esse meu blog consegue ter menos acessos, de forma que em breve atingirei o nirvana dos blogs).

Pois bem, o assunto do momento é a confusão na USP. E eu só vou comentá-la porque vi que ela se encaixa nesse quesito de ser um pequeno fato em que as pessoas, por alguma razão, expõem quem elas são de verdade. O que eu mais vi foram comentários de pessoas chamando os uspianos de maconheiros filhinhos de papai depredando os bens públicos. Hoje, pela primeira vez, ouvi uma voz do outro lado: um estudante da USP, cobrindo a reintegração de posse da reitoria pela PM, com um breve relato em primeira pessoa.

Ele reclama da falta de acesso ao interior da reitoria, barrado pela PM, diz que a ação foi violenta (e que a mídia de massa mascarou isso), que os estudantes não depredaram nada e, em dado momento, fala da desumanização da PM. E foi isso que me chamou a atenção: alguém espera que a PM tenha uma reação humanizada? Fiquei quase comovida com aquilo, porque, afinal, alguém esperou isso da PM. Na hora, me veio um risinho irônico, mas logo depois me envergonhei.

No caso do metrô de Higienópolis, eu já havia dito que as pessoas estão lutando as lutas erradas. E aqui reforço a minha percepção. É contra a PM que os estudantes deveriam estar se digladiando? Se uma parcela da população acha que fumar maconha não deveria ser caso de polícia, o problema é com a polícia? Por que eu não vejo um movimento forte para descriminalizar as drogas, lutando para mudar as leis no Congresso? Por que essas pessoas não se organizam de fato, de forma institucional?

Vejo o mesmo aqui na Cracolândia. Todo mundo diz que os noias são uma questão de saúde pública, e não de polícia. Mas, enquanto a questão da saúde pública não se resolve, o restante da população paga o preço. Cadê o movimento social defendendo uma solução institucional? Eu não sei qual é a solução, nem para este caso nem para os outros, e desconfio que qualquer que seja a solução, ela desagradará uma boa parte dos interessados, mas, pelo menos terá sido defendida em argumentos racionais.

Quanto aos manifestantes da USP, gostaria de vê-los envolvidos em questões mais profundas e menos em torno do seu próprio umbigo. Assim teria esperanças de que o povo da Humanas retornou ao foco de olhar para a humanidade, e não para o seu microcosmos.

domingo, 6 de novembro de 2011

Pombas, noias e ruas arborizadas

Minha filha tem medo de pombo. Um medo tenebroso. Treme toda quando vê um, agarra em mim. Não tiro a razão dela. Todo mundo diz que os pombos são ratos com asas, né? São sujos, transmitem doenças, têm carrapatos.

Então, normal ter medo de pombos (embora eu acredite fortemente que, do alto dos seus 3 anos bem vividos, ela não coloque isso na conta). Seria especialmente normal se ela também tivesse medo dos noias e horror ao lixão que se acumula pelas ruas. Mas isso não acontece. Ela acha os noias, as prostitutas e o lixo perfeitamente normais e inseridos no contexto. Cumprimenta todo mundo, elogia a roupa dos travecos, pergunta onde foi que comprou o tênis fosforecente e elogia as unhas pintadas dos pés, sempre cintilantes e pra fora do sapato.

Seu medo dos pombos não é racional, assim como a naturalidade com que trata os noias também me parece um pouco irracional. É naturalidade demais pro meu gosto classe média-baixa.

Embaixo do meu prédio, tem dois bares: um frequentado por africanos e outro por latinos, especialmente peruanos. Ficam bem de frente um para o outro, mas jamais se misturam. Cada um com sua música característica e sem parecer tomar conhecimento do vizinho. Os africanos são sisudos e jogadores: jogam carta e sinuca sem parar. Os latinos são festeiros, falam alto, socializam demais.

Mas nunca vi sair uma confusão entre os africanos. Já entre os latinos... Já vi brigas várias, garrafadas e facada. Sempre tudo lá entre eles, sem afetar os que passam e mto menos os africanos. Para o pobre desavisado que passa na rua, os africanos parecem mais assustadores, falando num idioma que facilmente áspero que pode ser confundido com uma briga, enquanto os latinos parecem eternamente festejar alguma coisa.

Minha filha não faz distinção e trata a todos, africanos e latinos, com a simpatia que lhe é inata (ou, pelo menos, certamente não foi herdada de mim). Os adultos que vêm aqui, no entanto, ficam horrorizados. Já têm na mente os milhares de programas de TV a que assistiram sobre a Cracolândia e confirmam suas suspeitas pela feiúra local.

Nesses dois anos desde que vim pra cá, no entanto, o que me parece é que a confusão é meio interna. Eles estão ali, com suas disputas e loucuras, mas a coisa se restringe a eles. É diferente do Itaim, por exemplo, onde você anda por ruas charmosas e tem um meliante doido pra pegar o celular do playboy que tá saindo do lindo prédio na Faria Lima onde trabalha.

Já fiz essa comparação para várias pessoas e sempre recebo um muxoxo de volta, como se eu estivesse tentando racionalizar a questão apenas pelo fato de morar aqui e não fosse uma observadora isenta para falar. Afinal, todos já têm seus juízos de valor formados.

No fim, ter medo de pomba e não de noia é tão racional quanto achar que o centro é muito mais violento que as áreas nobres da cidade. Por via das dúvidas, mantenho a cautela com tudo: as pombas, os noias e as ruas arborizadas do Itaim.

sábado, 29 de outubro de 2011

Relativismo

O começo do meu namoro com aquele que atualmente vem a ser meu marido foi, digamos, um tanto conturbado. Logo depois que nos conhecemos, eu caí e quebrei a mão (e juro que essa foi a coisa mais light que aconteceu naquele final de ano).

Me lembro muito bem de tudo o que aconteceu naquele final de ano, há seis anos. De muita coisa ruim, mas de uma especialmente boa. Eu e ele estávamos almoçando num boteco. Estávamos juntos há pouquinho tempo. Eu já estava com a mão quebrada. E a gente naquele boteco, batendo um PF de, me lembro perfeitamente, R$ 6. Eu fiquei me debatendo com o bife e ele percebeu e, sem falar nada, pegou meu prato e cortou meu bife pra mim.

E foi assim que percebi que realmente gostava dele. A primeira vez que tive essa certeza. Achei o gesto cuidadoso. E me casei por causa de um bife de um PF de R$ 6. Essa é uma lembrança boa, que não apaga nenhuma das memórias ruins que tenho daquele ano.

Logo depois, fomos à casa de um amigo dele. O amigo não estava lá, tinha ido com a mãe e os irmãos para o sítio da família numa cidade próxima. Na casa do amigo, estava só o pai do amigo. Quando chegamos, ele estava passando mal, sem ar. Nós o levamos ao hospital, tiraram uma chapa do pulmão dele e o médico disse que ele tinha tuberculose e deveria ir ao posto médico na segunda. Levamos ele de volta para a casa dele e ele morreu naquela noite, em casa.

Antes desse fato, aquele tinha sido um dia agradável. Mas não sou capaz de me lembrar do que aconteceu exatamente de agradável, porque esse acontecimento horrível ofusca qualquer outra coisa.

A conclusão, possivelmente influenciada pelo meu estado de espírito neste momento, é que eventos negativos têm um poder incrível, poder de fazer descer uma menstruação, de embranquecer cabelos, de fazer engordar, emagrecer, de unir ou separar as pessoas, de matar alguém do coração. Já os positivos, infelizmente, são muito mais efêmeros e passíveis de serem ofuscados por qualquer merda que ocorra num espaço de tempo bem próximo.

O dia hoje foi assim: começou super bem, continuou super bem e acabou uma bela bosta. E sei que na minha memória só a bela bosta vai ficar.

sábado, 13 de agosto de 2011

Muito ajuda quem não atrapalha

Quando eu estava grávida, comecei a ver muita mulher grávida no mundo. Depois, quando a Helena nasceu e eu tinha aquele bebê fofo na minha vida, passei a ver zilhões de bebês pelas ruas. Tudo isso para dizer que eu não sei se o que eu vou falar agora é uma observação objetiva ou apenas fruto do meu foco por eu morar onde moro e ser uma torcedora da revitalização da região.

O fato (pode ser um fato enviesado, mas ainda assim um fato) é que tenho visto tantas notícias sobre a Cracolândia nos últimos tempos... As notícias de sempre, falando da degradação, da sujeira, dos noias, da falta de segurança, do êxodo de moradores decorrente disso tudo. Mas também algumas ótimas notícias.

Hoje, voltando para casa, passei em frente à construção da nova unidade da Fatec/Etec, na região da r. Santa Ifigênia. Está indo de vento em popa e vai trazer um público diferente para a região. Quando vi aquilo, me veio à mente o curtir do Facebook. Se existisse um curtir para a vida urbana, a obra certamente ganharia o meu.

Aí cheguei em casa, peguei o jornal e li que a nova unidade do Sesc, na al. Glete, vai ser inaugurada no dia 27 deste mês. Fica do lado do Liceu Sagrado Coração de Jesus, uma escola salesiana enorme, num daqueles prédios antigos lindos, que atualmente tem pouco mais de 200 alunos, porque pai nenhum quer que seu filho saia da escola e atravesse a horda de drogados para chegar em casa. O padre que é diretor da escola (que eu amo sem conhecer apenas pelo fato de o sobrenome dele ser Spinosa, filósofo querido) estava todo animado e já falou que vai reformar o teatro do colégio, que está fechado há 10 anos.

Enquanto isso, a prefeitura se debate com o projeto de revitalização da região. No começo, seriam demolidas 20 quadras. A brilhante ideia da prefeitura era desapropriar a galera que mora e trabalha aqui e vender os terrenos para a iniciativa privada, que deve estar babando, já que terreno em área central da cidade é a coisa mais difícil que tem. Houve gritaria geral, porque essa coisa de expulsar o pobre para a periferia para dar lugar aos ricos pode ser qualquer coisa, mas certamente não pode ser chamado de revitalização. Tá mais para limpeza social.

Agora, pelo que entendi, a área de desapropriação foi reduzida para 11 quadras e prevê a construção de moradias populares na região. Parece melhor, né?

Mas eu digo que, se a prefeitura se desse ao trabalho de fazer uma coleta de lixo decente na região, o que não é nada mais do que a obrigação dela, a coisa já melhoraria muito. Os prédios e estabelecimentos comerciais colocam seu lixo para fora, na calçada, sem gaiola, os caminhões de lixo demoram horrores para passar, os noias abrem tudo para revirar em busca de algo que possam vender e de manhã é só horror e iniquidade. Além disso, de manhã vejo ainda muito lixo fechado na rua, o que mostra que o caminhão de lixo simplesmente não passou ou, se passou, não fez o trabalho dele.

Meu ponto é que, antes de encampar um projeto polêmico e faraônico de revitalização, querendo transformar o centro em Barcelona, a prefeitura tem que fazer o básico, cumprir o job description dela, o que não tem acontecido.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Bem do seu tamanho

Passei o final de semana grudada com a minha filhinha. Tinha deliberadamente me proposto a fazer isso. Andava sentindo que estava passando muito pouco tempo com ela e que essa intimidade não seria criada quando eu bem entendesse, tipo quando ela tivesse 25 anos e eu já tivesse feito todas as outras coisas que eu pudesse julgar importantes: cuidar da carreira, fazer todos os cursos de mkt e de finanças que eu visse pela frente, assistir aos filmes que eu queria e voltar a ter aquela atualização cinematográfica de 5 anos atrás.

Não, se eu queria ter um laço firme, ele teria de ser alimentado sempre, cotidianamente. É bem óbvio, todo mundo sabe disso, mas a tontona aqui precisa pensar nisso de forma estruturada de vez em quando para não deixar a coisa desandar.

Assim, no sábado, carreguei a filhinha para tudo o que eu pude: levei no parquinho de manhã, brinquei na areia, empurrei no balanço, ajudei no escorregador. Lá pelo meio-dia, arrastei a criança para o shopping Higienópolis, almoçamos lá e depois levei-a ao play do shopping, onde ela pôde brincar nos brinquedões mais estruturados do lugar, todos com muito plástico.

Fazia tempo, muito tempo que não ia ao shopping Higienópolis. E, como minha vida mudou bastante desde a última visita, assim como meu olhar sobre o mundo, achei o shopping mais elitista do que nunca. Não que isso fosse um problema. A gente adorou o cheirinho do lugar, esse negócio que chamam agora de experiência olfativa. Também adorou o brigadeiro da Brigaderia, que eu comi felizona junto com um Nespresso de que eu tanto gosto.

Mas, como eu disse, meu olhar mudou bastante. E ali me senti mais pobre do que costumo me sentir. E me lembrei de um livrinho que li quando era criança, "Bem do seu tamanho", da Ana Maria Machado. Me lembro que, quando li o livrinho, criança, todo um mundo de respostas se abriu para mim: por que, quando eu chorava e pedia colo, minha mãe me dizia que eu era muito grande, mas, quando eu pedia para patinar no gelo na pista toscona ao lado da rodoviária, eu era muito pequena?

Toda criança deve passar por isso. Não fosse assim, essa dificuldade de encontrar seu lugar no mundo não teria inspirado a autora.

Aí transportei o conceito para as classes sócio-econômicas. Percebo claramente que, aqui na Cracolândia, as pessoas do meu prédido e as outras poucas que conheço claramente me classificam como "rica". E percebi ali no shopping Higienópolis que não uso as mesmas roupas, não frequento os mesmos lugares e provavelmente não tenho os mesmos valores que a maior parte delas. Também descobri que fazer luzes no cabelo é obrigatório se você passou ou se aproxima perigosamente dos 40. Observei também que as mães frequentadoras do local usam invariavelmente agasalho esportivo. Acho que essa descoberta não tem lá muita importância, mas fica aí registrada, a quem interessar possa.

E fiquei pensando qual seria de fato o "meu tamanho", como a personagem da Ana Maria Machado, que, coincidência ou não (é óbvio que é coincidência), se chama Helena, mesmo lindo nome da minha pimpolha. A resposta é igualmente óbvia: depende se estou fazendo manha ou pedindo para patinar no gelo (quero dizer que até hoje culpo minha mãe por jamais ter patinado no gelo, ou patinado onde quer que fosse). Ou seja (caso alguém ainda não tenha entendido): depende se meu ponto de referência é Higienópolis ou os vizinhos da Cracolândia.

Me lembrei de uma amiga que disse que se sente perfeitamente inserida na sua classe social. E fiquei com uma invejinha dessa sensação de perfeito conforto na sua própria pele. Deve ser bom não ter dúvidas a respeito do seu tamanho.

Por fim, apenas um adendo: depois de um final de semana de intensa dedicação à minha cria, ainda tive que ouvir a dita cuja dizer que queria dormir com o papai, "só com papai", sendo que o papai não se coloca nenhum tipo de questão existencial e tampouco se preocupa se se encaixa bem em coisa alguma. Maledeto.

sábado, 28 de maio de 2011

Mundo desencantado

Os relacionamentos, me parece, costumam seguir uma curva que, ao menos até certo ponto, se repete: você conhece alguém, e pode ou não haver um processo de encantamento. Se ele ocorrer, ambos procuram mostrar ao outro o melhor de si, contam suas melhores histórias, agem com a maior gentileza e presteza.

O estágio seguinte é algo que eu descreveria como uma intimidade positiva: os dois se conhecem extremamente bem e estão felizes com isso, sabem o que o outro pensa e deseja sem que seja necessário dizer uma palavra. Imagino que seja nesse estágio que muitas pessoas se casam.

A partir daí o jogo dá uma embaralhada. Em alguns casos, passa-se para uma intimidade com saldo positivo: algumas características que você achava interessantes e charmosas no outro passam a ser meio malas, mas você ainda gosta do outro e está disposto a aguentar as maletices. Em outros casos, os aspectos negativos suplantam os positivos e tudo fica insuportável. Então há um rompimento ou uma vida de cão. Me parece que em ambos os casos há uma espécie de desencantamento, apenas com graus diferentes.

Embora o exemplo mais óbvio seja de fato o dos relacionamentos afetivos, acho que a curva se aplica a quase tudo com o que estabelecemos um relacionamento na nossa vida: amigos, profissão, emprego e também para o novo lugar para onde você se mudou.

Quando me mudei para a r. Augusta, houve um encantamento imediato. Amava morar a duas quadras da Paulista, amava saber que tudo estava aberto a qualquer hora do dia, amava os cinemas da região, amava as pessoas na rua, amava os sebos, amava o restaurante indiano lacto-vegetariano ali do lado, amava as baladas que foram abrindo ali por perto, amava até as putas e os salões de beleza que funcionavam de madrugada para atendê-las.

Incorporei a cena rapidamente. Pintei o cabelo de vermelho, comprei meu All Star, andava sempre com um livro embaixo do baixo e não perdia as mostras de cinema.

Com o tempo, continuei amando, mas algumas coisas começaram a me incomodar: não aguentava mais ver tantos "modernos" na rua, a cada ano que passava com um alargador maior na orelha. As baladas se tornaram repetitivas e perderam um pouco da graça. Mas ainda amava ter tudo perto, ver a rua cheia de gente e morar a duas quadras da Paulista. A intimidade teve um saldo positivo. Quando saí dali, esse ainda era meu estado mental.

Com o centrão de São Paulo, não houve esse processo de encantamento. Fica difícil se encantar quando hordas de noias e toneladas de lixo cobrem a paisagem. Diferentemente de um relacionamento afetivo, no entanto, eu não podia simplesmente escolher não me relacionar com o lugar onde moro.

Por isso, tive de procurar saber como me relacionar num mundo desencantado para mim. A saída que encontrei foi adotar uma postura conciliadora, do estilo "tudo bem, nunca vamos nos amar, mas temos que dar um jeito de viver juntos em razoável harmonia".

E assim foi. Fui tratando de descobrir aspectos que me agradavam. Comecei pelo estômago, é claro. Revisitei o Mercado Municipal e os botecos/restaurantezinhos simples da região que me agradam (La Farina, Sujinho, o Café Girondino, O Gato que Ri, o Almanara) e os menos simples também (Terraço Itália, La Casserole).

Revivi o gosto pelo samba de raiz com cerveja de garrafa na praça Roosevelt e me lembrei como a torta de frango da Padaria Campos Eliseos continua sensacional. Vi um concerto na Sala São Paulo, não sem antes tomar uma tacinha de champanhe. Fui ver uma peça dos Parlapatões, programa que eu acreditava ter enterrado junto com a minha vida de estudante.

Tomei um choppinho sentada na calçada da rua Avanhandava. Descobri que o Pateo do Collegio tem um café para lá de simpático, rota preferencial depois de almoçar no Salve Jorge perto da Bovespa. Ainda tem mais umas coisinhas na manga para o futuro. Afinal, como diz o ditado, quem poupa tem.

Enfim, percebi que, mesmo num mundo desencantado, podemos dar uma enfeitadinha e driblar a curva. Sai pra lá, Tamburello.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O mundo cinza

Quando vi a matéria na Folha falando sobre a luta da associação de moradores de Higienópolis contra a instalação do metrô, não hesitei em me alinhar à tal "gente diferenciada" que era supostamente alvo da repulsa de alguma parte da população do bairro. Ao longo daquele dia, anteontem, e dos dias seguintes, a coisa foi tomando uma proporção tal que me deixou assustada e confusa.

De todos os lados vinham vários argumentos pró e contra a posição daqueles moradores. De ambos os lados havia considerações perfeitamente racionais e outras perfeitamente nazistas. O mundo se mostrou mais uma vez muito mais cinza do que parecia.

De tudo isso, o que ficou claro para mim é que a aparente paz com que convivem as diferentes classes sociais é só isso mesmo: aparente. Eu já deveria ter desconfiado disso, afinal, a violência urbana e a resposta que tem sido dada a ela (carros blindados, portarias de prédio impenetráveis, condomínios "all inclusive") são sinais mais do que claros do ódio que uma classe nutre pela outra.

Certamente há muitos estudos por aí que tratam disso e eu não quero pretender estar descobrindo a pólvora. Coloco-me apenas na posição daquilo que gosto de chamar de "leiga esclarecida", ou seja, de alguém que não é especialista no assunto, mas que é supostamente (tô parecendo a Folha, com esse monte de supostamente) capaz de entender e de refletir sobre um tema, ainda que chegue a conclusões mais do que conhecidas.

Voltando ao "caso Higienópolis", contariam a favor daqueles que são contra a estação na Angélica o fato de que ela seria próxima demais de outras duas estações, que, de alguma forma, sua localização descaracterizaria o bairro e que, por fim, existem outras áreas na cidade muito mais necessitadas de uma estação de metrô.

Em relação aos que repudiaram a iniciativa da associação, pelo que me parece, pesam a certeza de que a reivindicação dos moradores teve como motivo fundamental a manutenção de uma certa "limpeza social", ou seja, dificultar a aproximação das mazelas que são acompanhadas pela facilitação do acesso e pela aglomeração de pessoas (camelôs, assaltos, degradação da área ao redor da estação). Vi também o argumento de que o governo não pode ceder aos interesses individuais (dos moradores do bairro, de andar tranquilamente em suas belas ruas e fazer compra no charmoso Pão de Açúcar) em detrimento do bem coletivo (transporte de massa, limpo e de fácil acesso).

Daí descambou para tudo o que é possível. Um defendeu que ser rico não é pecado (pergunta se ele é rico ou pobre) e muitos do lado de lá passaram a xingar a tudo e a todos, como os judeus que moram em Higienópolis. Baixaria geral. É só dar uma oportunidade que o pior da humanidade vem à tona.

Pois bem. O ponto que vou defender é outro. Numa cidade em que a região central é tão absolutamente degradada, me parece quase um alívio saber que existem alguns pontos em que os ricos insistam em ficar. Higienópolis é um deles, o Jardins é outro. É isso mesmo, é quase uma teimosia ficar. Boa parte dessas pessoas já podia ter se mudado para outros distritos em que essas questões demorariam mais a aparecer, como Moema, Itaim, Vila Olímpia etc.

Dessa forma, não me parece nada saudável para a cidade expulsar os ricos da área central. Por outro lado, também não é nada justo dificultar o acesso das pessoas, quaisquer que sejam, e especialmente as que dependem de transporte coletivo. De uma certa forma, é a mesma discussão que se trava sobre a revitalização da cracolândia (meu marido me disse hoje, com visível orgulho, que viu Cracolândia escrito com C maiúsculo na revista piauí).

Só um parêntesis. Aqui, na Cracolândia (agora para sempre com C maiúsculo, para alegrar o marido), a discussão que se trava é: para quem é a revitalização? Para quem mora e trabalha aqui ou para a formação de um novo bairro de classe média-alta, com o privilégio de uma infraestrutura pronta?

Assim, aqui, da minha cadeira na cozinha de casa, me parece que as pessoas estão lutando as lutas erradas. A suposta (olha o suposto aí novamente) elite deveria estar lutando para que o governo fosse capaz de prover uma estação de metrô que não gerasse degradação, enquanto os demais interessados deveriam exigir que a região central continuasse (e fosse cada vez mais) um lugar onde empregos são gerados, em que o capital circula e em que as pessoas têm prazer de estar.

Mais uma vez, fui panfletária e não falei dos aspectos pitorescos do bairro. Mas estou feliz com meu post. E, principalmente, achei interessante que as mágoas sociais tenham vindo à tona. Um mundo nem preto nem branco. Um mundo cinza, como a cidade de São Paulo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sem luxo no lixo

Pois bem, casa ajeitada e é hora de tocar a vida adiante. E foi assim que comecei a experimentar, pela terceira vez na vida, o preconceito.

A primeira vez que experimentei o preconceito começou aos 4 anos. Meus pais, classe média-baixa, mais para baixa do que para média, me colocaram para estudar num colégio burga.

Descobri, então, a importância do viaduto. Na minha cidade, quem morava para lá do viaduto estava dentro do clubinho. Quem morava para cá do viaduto estava totalmente eliminado. Nada de ser chamado para festinhas, tardes na casa dos amiguinhos regadas a pipoca, bolinhos, pães de queijo e refrigerante. Pior do que qualquer big brother da vida. Nem preciso dizer em qual grupo me encaixava.

Tempos depois, descobri o segundo preconceito: o de ser gordo. Gordo tb não é chamado para nada e não se espera que um gordo se arrume, use uma roupa descolada, maquiagem, acessórios, nada disso. O gordo popular é o gordo engraçado. Então, como na época não sabia ser muito engraçada, emagreci. Depois, quando engordei de novo, aprendi a ser engraçada, porque, afinal de contas, sobreviver é preciso.

Já adulta, namorei dois homens negros (consecutivamente, não simultaneamente, é bom deixar claro). Eles me falavam sobre o preconceito contra o negro, mas eu achava difícil de perceber, o que mostra que só a vítima do preconceito consegue enxergar isso com clareza. O mais irônico é que o segundo namorado me deu um gigantesco pé na bunda justamente porque eu tinha engordado, o que mostra, por sua vez, que não é porque se é vítima de um preconceito que se está livre de praticá-lo contra os demais.

Então, aos 33 anos, revivi o alvo do preconceito da minha infância: o endereço. A classe que eu conheço (melhor do que gostaria, diga-se de passagem, sem trocadilho) que manifesta isso com menos pudor são os taxistas. O cara pode morar na periferia da perifeira, mas, quando vem me trazer em casa, jamais se furta de dizer que aqui é muito pior do que o buraco em que ele mora. Se for um taxista com ponto em lugar chique, então, vejo na cara do sujeito a hesitação antes de me trazer em casa.

Hoje o taxista, velhinho, toscão, ouvindo Guilherme Arantes no rádio, dirigindo como o diabo (supondo que o diabo dirige mal), disse com todas as letras: "Eu moro em São Miguel Paulista, é longe pra burro, mas isso aqui é mil vezes pior". E fez aquela cara. Aquela cara. "Pois é", disse eu, que é a resposta-padrão que adotei para essa situação.

O centrão parece um cenário de filme apocalíptico: você anda pelas ruas e vê ruínas, lixo e zumbis. O Ridley Scott não faria melhor. Mas só aqui você pode encontrar cenas inusitadas: os chineses donos da granja que jogam bola (dentro da granja) com o filho de 8 anos, a velhinha de 90 anos que é dona da locadora de filmes pornôs (e limpa os DVDs pornôs diariamente, sistematicamente e com afinco), os latinos que passam o dia inteiro ouvindo o que aos meus ouvidos paulistanos parece ser sempre a mesma música da flautinha.

Ao longo do tempo, percebi que existem, na verdade, ao menos duas grandes classes de problema. Aquela à qual todo mundo se refere quando trata das mazelas do lugar são os noias. Esse é um problema de resolução tão difícil que eu nem me atrevo a conjecturar sobre quais seriam as possíveis medidas para melhorar a situação. Eles não parecem mais gente, você olha no olho deles e não parece encontrar ali nenhum resquício daquilo que a humanidade vem tentando construir há séculos.

Mas, para nós, seres humanos medianos que habitamos essas paragens, há um segundo problema, tão grave quanto o outro, mas que é de muito mais fácil resolução e que requer apenas vontade política para ser solucionado: o lixo. O centro é um grande lixão. De manhã o lixo já está todo revirado pelos noias e vai sendo mais e mais revirado ao longo do dia, até que tudo esteja tomado por aquela sujeira e pelo odor característico que o acompanha.

Então, a minha pergunta é: será que antes de pensar em demolir 20 quadras, expulsar todo mundo que mora e trabalha aqui, construir centros culturais, entregar o terreno às grandes incorporadoras, enfiar os noias em Alcatraz, não dava para fazer uma coleta de lixo decente e eficaz?

Hoje não deu para fazer um post engraçadinho. Peço desculpas se alguém ler e achar que sou uma militante mala, mas não pude deixar de colocar isso em algum espaço público. Se acharem que esse post é um lixo, chamem a prefeitura para recolher. Vamos ver se alguém aparece.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A vida pós-Fagner

Já faz tanto tempo que não escrevo que deu tempo do Fagner, meu peixe beta, morrer. Tudo bem, o tempo que se leva para morrer é de apenas um instante, ou seja, eu poderia ter escrito há 5 minutos e ele ter morrido nesse intervalo do mesmo jeito. Mas não foi o que aconteceu: fiquei um mês e meio sem dar as caras.

As desculpas são as mesmas de sempre: trabalho, filho, marido, estudos e, principalmente, o Wii novo que eu comprei e anda ocupando os poucos momentos livres (e às vezes os não livres também).

Mas, enfim, agora estou aqui, me dedicando especialmente aos meus leitores (leitora, no caso, já que eu mesma sou a única pessoa que eu conheço que dá uma lida nesse blog de vez em quando, o que é, de certa forma, libertador).

Então, como eu estava dizendo no último post, viemos para a crackolândia, o que me permite entrar no tema deste blog propriamente. A mudança, grande trauma da minha vida, até que foi tranquila: um móvel arranhado, uma afundadinha na geladeira, mas tudo dentro do aceitável considerando a relação custo/benefício (ainda pego quem inventou essa relação). Usei minha filha de escudo, me amoitei no apartamento da cunhada e deixei o marido com a bucha na mão, no bom sentido (ou mau sentido, ainda não tenho bem certeza).

Logo me deparei com as primeiras agruras decorrentes da decisão de dar um downgrade no estilo de vida: o prédio, construído no longínquo ano de 1965 (que minha irmã, nascida nesse ano, não leia este post), não tem interfone nem cabeamento. Isso acarreta, de cara, dois transtornos: o pirmeiro é que a visita já chega na minha porta, o que não me dá nem um tempinho para recolher a eterna bagunça da sala, que eu insisto em atribuir à minha filha, mas que, na verdade, tem a contribuição homogênea dos três membros desta familinha.

A segunda me levou a uma mudança de operadora, da NET (mais baratinha) para a SKY (mais carinha). Tirando o preço, ambas são impressionantemente iguais: saem do ar na hora da chuva, se embananam com as cobranças (e vêm para cima de você com tudo com as suas confusões) e têm um péééééssimo atendimento.

Mas, enfim, a casa foi montada com razoável rapidez, para os meus padrões caóticos, e logo era perfeitamente habitável.

Problemas domésticos resolvidos, logo comecei o reconhecimento do território. No meu segundo dia de moradora de carteirinha da crackolândia, voltava de táxi da pós e me deparei com uma horda de noias. Na minha frente, um camburão da polícia "tocava" os noias com o carro, jogando bombinhas de efeito moral. E eles iam de um lado para o outro, muitos e muitos noias. Me senti numa espécie de "O Rei do Gado" do mundo bizarro. Apavorei. Quase peguei joias (que eu não tenho) e documentos e voltei para a segurança do baixo Augusta (você vê que tudo é uma questão de base de comparação). Como isso era, obviamente, muito complicado, fiquei. E já faz um ano que estou aqui. Agora vem a mensagem edificante final: mesmo com todo lixo, todos os noias, todos os travecos (nada contra os travecos), o centrão tem lá seus encantos. E prometo mostrar pelo menos um de vez em quando, para não ganhar fama de ranzinza.