sábado, 13 de agosto de 2011

Muito ajuda quem não atrapalha

Quando eu estava grávida, comecei a ver muita mulher grávida no mundo. Depois, quando a Helena nasceu e eu tinha aquele bebê fofo na minha vida, passei a ver zilhões de bebês pelas ruas. Tudo isso para dizer que eu não sei se o que eu vou falar agora é uma observação objetiva ou apenas fruto do meu foco por eu morar onde moro e ser uma torcedora da revitalização da região.

O fato (pode ser um fato enviesado, mas ainda assim um fato) é que tenho visto tantas notícias sobre a Cracolândia nos últimos tempos... As notícias de sempre, falando da degradação, da sujeira, dos noias, da falta de segurança, do êxodo de moradores decorrente disso tudo. Mas também algumas ótimas notícias.

Hoje, voltando para casa, passei em frente à construção da nova unidade da Fatec/Etec, na região da r. Santa Ifigênia. Está indo de vento em popa e vai trazer um público diferente para a região. Quando vi aquilo, me veio à mente o curtir do Facebook. Se existisse um curtir para a vida urbana, a obra certamente ganharia o meu.

Aí cheguei em casa, peguei o jornal e li que a nova unidade do Sesc, na al. Glete, vai ser inaugurada no dia 27 deste mês. Fica do lado do Liceu Sagrado Coração de Jesus, uma escola salesiana enorme, num daqueles prédios antigos lindos, que atualmente tem pouco mais de 200 alunos, porque pai nenhum quer que seu filho saia da escola e atravesse a horda de drogados para chegar em casa. O padre que é diretor da escola (que eu amo sem conhecer apenas pelo fato de o sobrenome dele ser Spinosa, filósofo querido) estava todo animado e já falou que vai reformar o teatro do colégio, que está fechado há 10 anos.

Enquanto isso, a prefeitura se debate com o projeto de revitalização da região. No começo, seriam demolidas 20 quadras. A brilhante ideia da prefeitura era desapropriar a galera que mora e trabalha aqui e vender os terrenos para a iniciativa privada, que deve estar babando, já que terreno em área central da cidade é a coisa mais difícil que tem. Houve gritaria geral, porque essa coisa de expulsar o pobre para a periferia para dar lugar aos ricos pode ser qualquer coisa, mas certamente não pode ser chamado de revitalização. Tá mais para limpeza social.

Agora, pelo que entendi, a área de desapropriação foi reduzida para 11 quadras e prevê a construção de moradias populares na região. Parece melhor, né?

Mas eu digo que, se a prefeitura se desse ao trabalho de fazer uma coleta de lixo decente na região, o que não é nada mais do que a obrigação dela, a coisa já melhoraria muito. Os prédios e estabelecimentos comerciais colocam seu lixo para fora, na calçada, sem gaiola, os caminhões de lixo demoram horrores para passar, os noias abrem tudo para revirar em busca de algo que possam vender e de manhã é só horror e iniquidade. Além disso, de manhã vejo ainda muito lixo fechado na rua, o que mostra que o caminhão de lixo simplesmente não passou ou, se passou, não fez o trabalho dele.

Meu ponto é que, antes de encampar um projeto polêmico e faraônico de revitalização, querendo transformar o centro em Barcelona, a prefeitura tem que fazer o básico, cumprir o job description dela, o que não tem acontecido.