segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Comunicação

A gente tem poucas certezas na vida. Uma delas sabemos bem qual é: a nossa finitude e a finitude de todos nós. Eu, além dessa certeza, tenho outra: sou uma profissional de comunicação. Sempre fui. Era daquelas crianças que escreviam a redação que a professora ia ler na sala depois como exemplo de bom texto. Foi assim a vida toda e a vida toda a escrita me salvou da minha inabilidade social. De certa forma, sempre vivi da comunicação, seja como estudante de filosofia, como repórter/redatora de jornal, como assessora de imprensa ou como produtora de conteúdo para uma grande corporação. Só sei fazer isso da vida. Mesmo que eventualmente eu venha a não garantir mais meu sustento como profissional de comunicação, posso dizer sem medo que continuarei sendo profissa nisso.

E também acho que só sei lidar comigo mesma através de palavras. Sem elas algo não é elaborado, não se estrutura e até os sentimentos ficam confusos. Por isso decidi escrever este texto hoje. Venho pensando nele há vários dias, desde que o fato que o gerou aconteceu. Não escrevi antes (e principalmente não o publiquei antes) porque fiquei com medo de, ao fazê-lo, banalizar os acontecimentos e eventualmente machucar as pessoas que estão compartilhando comigo desse sofrimento. Espero que não aconteça, que se entenda que jamais faria qualquer tipo de showzinho com algo desse naipe, que não é vontade de aparecer nem de me vitimizar nem de nada. É apenas uma necessidade. Uma necessidade de alguém que sempre viveu das palavras.

Bom, o fato gerador foi a morte da minha mãe. Dia 6 de agosto de 2014. Levada por um infarto, após uns 3 meses de angústias, esperanças e desesperanças. No velório dela alguém me disse o seguinte: "Agora começa uma nova fase da sua vida, uma fase sem ela". E isso caiu na minha cabeça bem pior que o tal balde de gelo do desafio do balde de gelo. Foi assim que eu descobri o significado de "para sempre". "Para sempre" ela não existe mais. Para sempre não.

No momento em que me disseram isso, comecei a olhar em volta. Quase todo mundo que estava ali já havia passado por esse tipo de perda: pai, mãe, irmãos, sobrinhos, filhos. Minha própria mãe já havia perdido seus pais e dois irmãos. Meu marido já havia perdido a mãe. Todo mundo. E como é que se vive com isso? "O tempo não cura, mas ameniza", me disseram. Aprende-se a conviver. Racionalmente imagino que sim, afinal estavam todos ali vivendo suas vidas. Então estou aqui, rindo das piadas alheias, fazendo minhas próprias piadas, levantando de manhã, tomando meu banho, pagando contas, cuidando para que a filha durma na hora certa, tentando não exibir o pior semblante do mundo o tempo todo.

Mas aí você percebe que o micro é muito mais difícil de lidar do que o macro. Você tinha um pacote telefônico interurbano mais barato para falar com ela à vontade. Cancela o pacote. Logo depois recebe uma conta R$ 50 mais barata do que o normal, porque não tem mais o bendito pacote. Sente o amargor na boca. A máquina de lavar dela tinha mais de 20 anos, você já tinha decidido dar uma nova de presente e acabar com o tormento de chamar o técnico cada vez que ela quebrava. Passa em frente à Casas Bahia e vê a máquina que ia dar de presente para ela. Sente um soco no estômago. Vai viajar no fim de semana. Toma uma friagem e fica com dor de ouvido, a mesma dor de ouvido que te acompanha desde criancinha. Instintivamente esquenta com a boca um pedaço de pano, como ela fazia para aliviar sua dor (by the way, não adianta nada, mas o que importa, né?).

Arrumando as coisas dela, encontrei um texto datado de 24 de outubro de 2010, dia do aniversário da minha avó Helena, mãe dela, que morreu em 1982. Ela relatava um sonho que tinha tido com a mãe. Ela jovem, segurando um bebê, tentando fazer ele dormir e a mãe ajudando de alguma forma. O tempo ameniza, mas não cura nem faz esquecer. Ainda bem, penso eu. Ela dizia que eu parecia muito com a mãe dela. Que sou bravinha, que nem a mãe dela e que, quando não gosto de alguma coisa ou de alguém, faço careta.

Da minha mãe herdei quase tudo geneticamente, sou cópia fiel (para o bem e para o mal). Da personalidade herdei certamente o senso de humor. Nos últimos dias, na UTI, ela contou pra todo mundo que ali tinha a maior concentração de médicos bonitos do país. Eu poderia perfeitamente ter feito esse comentário. Aproveitou para dar uma paquerada nos médicos.

Não herdei, certamente, a empatia que todo mundo sentia por ela. Ali, doentinha, ela dava conselhos para uma enfermeira que não conseguia arrumar namorado. Sempre pragmática nesse aspecto, falou pra ela se declarar e, caso não resolvesse, que virasse a página e procurasse outro. Virou a queridinha do povo da UTI. Mas também não era boba: dava bronca em quem não tinha tato para lidar com os pacientes. No velório o que mais ouvi foi o quanto era boa de papo. É muito para alguém que, no fundo, era totalmente antissocial e mantinha uma vida bem reservada.

Agora me pego nesse dilema do "acabou" e do "não acabou". Acabou porque ela se foi. Não vai mais esquentar o paninho para a minha dor de ouvido, não vai ver minha filha crescer como ela mesma disse que queria, não vai mais falar que, no fundo, somos todos árabes, como ela acreditava, não vai mais fazer feijão com paio, cuscuz ou doce de abóbora, suas três parcas mas famosas habilidades culinárias. Mas a genética e a criação ficam em nós, as três filhas e dois netos que ela amava mais que tudo. A gente continua acreditando no poder curativo da hipoglós, do própolis, mantém esse olhar crítico que ela tinha sobre o mundo (por vezes crítico demais), perpetua esse humor ácido e, sobretudo, continua, como ela, acreditando que a vida vale a pena.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Cartilhas

Eu ia começar este post justificando minha ausência dizendo que é difícil manter o interesse quando se escreve um blog sobre um tema pessoal. Aí comecei a ler o último post e percebi que ele começava E-XA-TA-MEN-TE desse jeito. Disso é possível tirar muitas conclusões: que eu não mudei de ideia nos últimos 3 meses, que eu não tenho a menor imaginação ou, quem sabe, pode-se concluir que seja realmente verdade.

Seja lá como for, isso me poupa desse blá blá blá introdutório e me permite tratar logo daquilo que eu tinha em mente. Então vamos ao que interessa (ou que me interessa, pelo menos). Eu estava aqui, matutando sobre uma assunto há algum tempo, quando hoje recebi uma mensagem pelo face de uma amiga, dizendo que também estava de dieta e me incentivando a voltar a escrever no blog. Disse que o blog a inspirava. Gente, vocês não têm noção do quanto isso me deixou feliz. Imagina, ser capaz de inspirar um ser humano? Nunca pensei que isso fosse possível pra mim. Coisa mais fofa de uma amiga igualmente fofa. Serei eternamente grata. Então resolvi sentar meu bumbum neste sofá, enquanto minha casa continua a maior zona em decorrência dessa pintura dos infernos no apartamento.

E o fato sobre o qual venho matutando é que atualmente tenho ouvido com muita frequência as pessoas falarem de como é o jeito "certo" de viver. E, claro, se existe um jeito "certo", nada mais lógico do que existir um jeito "errado" (ou muitos jeitos errados).

Por exemplo, em algum momento do passado, enquanto eu era uma estudante de filosofia, o jeito certo de viver plenamente aceito (ou assim eu achava que era) incluía ler muitos livros, estudar muito, consumir o máximo de cultura que fosse possível, usar roupas simples, tomar cerveja no boteco em copo americano, dançar forró na cooperativa de Barão Geraldo. O jeito errado incluía ainda muito mais coisas, como usar scarpins, fazer luzes loiras no cabelo, gostar de gadgets tecnológicos, música eletrônica e por aí vai.

Em um outro universo de pessoas, o jeito certo parece ser "curtir" a vida até os 28 anos, casar até os 30, ter um filho até os 32 e o segundo até os 35. Juntar dinheiro, comprar um bom apartamento, ter um bom carro, praticar esportes, estar antenado com as novas tecnologias. Tudo isso faz parte do jeito certo. O jeito errado parece ser viver de outra forma qualquer que não contemple nada disso.

É óbvio que estou sendo simplista e um pouco irônica (mas não muito). Mas, de verdade, o que me incomoda não é as pessoas seguirem as cartilhas que melhor lhes parece para viver, mas a perpétua sensação de que existe uma intolerância com quem pensa diferente, sente diferente, vive (ou tenta viver) diferente. Parece que tá difícil reconhecer e aceitar o outro, viu?

É exatamente como a questão do preconceito. Quem não é negro, gordo, mulher, pobre, homossexual etc. e tal muitas vezes simplesmente nega que exista o preconceito contra todas essas condições de vida aí. E, se você, que está em um desses grupos, diz que tem, logo vem uma avalanche de racionalizações para dizer que não é discriminação, é qualquer outra coisa. Tipo o clássico "não é discriminação de cor, é porque tem muito negro nas camadas mais pobres, por isso eles não estão nos postos mais altos da sociedade".

Bom, existe uma forma muito simples de solucionar essa dúvida: pergunte a quem está no grupo em questão. Pergunte a um negro, gordo, mulher, homossexual, pobre etc. e tal o que ele acha, se existe discriminação ou não, se já passou por alguma situação de discriminação ou não. Vamos ouvir tantos, tantos e tantos exemplos que uma vida não seria suficiente para dar conta. Por isso que a profissão de repórter me atraía. Em tese, um repórter iria testar a sua hipótese na realidade e colheria os depoimentos dos personagens envolvidos. Profissão: repórter. Vai lá perguntar pro Caco Barcellos.

Então o mundo em que vivemos é este, vamos parar de fingir. E eu cansei. Eu e o João Doria Jr. Por isso não finjo mais nada. Posso no máximo ficar quieta e escolher em quais brigas quero entrar.

Por outro lado, me sinto absolutamente confortável para elaborar a minha própria cartilha do que considero certo ou errado para viver. No meu caso, apenas almejo chegar a algum lugar mais para a frente da vida com uma velhice razoavelmente digna. E qual o caminho para isso? Acho que 4 aspectos, basicamente: cuidar do corpo, cuidar da mente, cuidar da vida financeira (veja, não disse enriquecer, apenas tentar não ser indigente) e cuidar da relação com as pessoas que me cercam, que me amam e a quem eu amo. Parece pouco, mas é coisa pra caralho. Demanda um esforço que não tá no gibi (expressão que denota a idade de forma irracional). No momento, diria que tenho relativo sucesso em alguns aspectos e relativo fracasso em outros.

No que toca a este blog, que é o cuidado com o corpo, posso dizer que estou a apenas 3 kg da minha meta dos 90 kg. Falta um mês e meio pro fim do ano. Eu andei dando aquela vacilada na dieta, o que ocorre quando a vida dá uma degringolada, mas tô aqui de novo, firme (metaforicamente falando, já que as carrrrnes não andam tão firmes assim) e forte. Nesta semana de volta, a meta é comer saudável. Saudável mesmo. Nada de carne vermelha, frituras, industrializados, gorduras, carboidratos refinados. Vamos de salada, sopa de legumes (no calor de 35º), muita água, frutas, peixe, nuts, aveia, granola e o diabo a quatro. E um livrinho, pra cuidar da mente. Acho que vou escolher alguma biografia não-autorizada, para ficar ligada no movimento.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

38 dias

Quem escreve um blog sobre algum tema de sua vida pessoal (vida de casado, maternidade, viagens, a vida em outro país etc.) sabe que o mais difícil é manter o interesse (o próprio e o dos outros) depois de algum tempo falando sobre a mesma coisa. Tudo cai na rotina e vira mais do mesmo. Não é à toa que tantos namoros e casamentos acabam por esse motivo. A rotina... Ah, a rotina...

Dieta é assim também. No começo é muito difícil, depois fica menos difícil. Conforme o tempo passa, você decora o valor calórico de absolutamente tudo, as quantidades que pode comer, sabe o que faz mais ou menos efeito em você, passa a sentir menos fome e a dieta finalmente é incorporada à sua vida. Eu sou capaz de dizer com uma precisão bem razoável quanto estarei pesando no dia seguinte dependendo do que eu comi.

Então você acha que a sua vida tá resolvida e que você pode predizer com algum grau de certeza quando atingirá as metas que traçou. Só que a vida é mais do que isso, né? É bem mais tortuosa e bem menos preto no branco do que uma simples contagem de calorias. E foi assim que os últimos 38 dias foram uma bagunça total. E posso dizer que a bagunça da dieta foi o que menos pesou nesses 38 dias.

Começou em 5 de julho, meu aniversário de 37 aninhos (sim, eu sei, pareço incrivelmente mais jovem, obrigada). Saí para jantar com a little family + irmã e cunhado. Outback, não pode prestar. Mas beleza, era aniversário. Nesse mesmo dia, saí de férias. Fiquei mais uns dias em São Paulo tentando manter algum controle e depois fui pra minha mãe. Aí doce de abóbora, feijão com paio etc. e tal. Foda.

Depois começamos uma pequena viagem de carro por algumas cidades de Minas. Fiquei pensando que talvez essa não fosse a viagem mais adequada para um ser humano com restrições alimentares, mas, enfim, foi o que fizemos, também devido a outro tipo de restrição, a financeira. Fomos pra Monte Verde (lindo e frio do capeta), São João del Rei (fofa) e Belo Horizonte. Quando chegamos em Belo Horizonte, a filha teve um dia de febre alta. Depois melhorou e fomos dois dias pra Inhotim (quem ainda não foi TEM que ir). Tudo bem.

No quarto dia a pequena piorou. Fomos parar no hospital. Lá se foram 8 dias internada, com uns sintomas bem sérios, sem um diagnóstico definido e algumas hipóteses bem bizarras. Hoje, finalmente, 22 dias depois desse pesadelo ter começado, a médica parece ter finalmente afastado a possibilidade mais assustadora. Disse que tem mais cara de ter sido uma... virose!!!! Virose, acreditam nisso? Normalmente eu ficaria muito p da vida de ouvir isso, mas, dadas as circunstâncias, foi um alívio imenso. Ainda tem mais investigação aí pela frente, mas o pior parece ter ficado definitivamente para trás.

Bom, vocês já devem ter entendido, a essa altura, que a dieta foi pro espaço nesse período. Meu plano era voltar aqui, neste blog, apenas quando atingisse minha próxima meta, de 92 kg, que era o peso que eu estava quando voltei de licença-maternidade, mas não deu. Em 5 de julho, quando o descontrole começou, eu estava com 95,8 kg. Agora estou com 96,5 kg. Diria que o estrago até que não foi tão grande, né? Será que estou sendo auto-indulgente? Maybe.

Por sorte voltei a ganhar a tranquilidade de que eu precisava para retomar esse caminho meio budista em que preciso me manter (embora repita que esse é um probleminha bem pequenininho perto do que rolou). E agora estamos aí, a 4,5 kg desse meu número mágico de 92 kg. Também por sorte pude contar com todas as pessoas maravilhosas que me cercam nesse período e tenho um cara pra lá de bacana aqui em casa que me incentiva e lava, pica e corta legumes quando vê que estou desanimando, além de me chamar para a realidade e me dar uma bronquinha. Tudo com aquele jeito fofo dele.

Vamos fazer uma apostinha? Quanto tempo vocês acham que eu vou levar para chegar nos 92 kg? Minha meta é escrever o post dando essa notícia em 31 de outubro. Tá bom pra vocês?

sábado, 25 de maio de 2013

Uma despedida

Boa noite (boa-noite tem hífen, acreditem, assim como bom-dia e boa-tarde, mas eu me recuso a escrever isso). Meu nome é Alessandra e eu não como carboidratos há 13 dias. É, enfim, fiz a dieta que a nutricionista passou. A primeira fase acaba amanhã. Depois, na terça, um dia de dieta líquida e mais uma semana em que voltam apenas as frutas.

Querem saber como foi? Uma palavra: foda. Foi foda. Bem foda. Comecei com um dia de dieta líquida. Depois duas semanas sem carboidrato. Sem carboidrato mesmo, inclusive sem fruta. Isso significa que sua vida se resume a proteínas magras e folhas verdes. Uma porção de legumes no almoço e outra no jantar. Sabe o que é uma porção de legumes? Meio tomate. Repito: MEIO TOMATE!!!

O primeiro dia foi horrível. Voltei pra casa com uma fraqueza... Depois por uma semana fiquei bem, tranquila. Com exceção de sábado passado e daqui a pouco eu conto por quê. Agora, nos últimos dias, voltei a não ficar bem. Dor de cabeça, dor no corpo, um pouco de náusea e um saco bem cheio.

Valeu a pena? Bom, lá se foram 5,5 kg e agora posso dizer do que se trata a despedida do título. Eu me despedi oficialmente dos 3 dígitos. Acordei hoje com 99,2 kg. Bom, lembrem-se de que eu comecei esta dieta com 115,6 kg. Façam as contas aí. Tive uma semi-epifania quando vi o número na balança. OK, eu sei que ninguém em sã consciência acha legal pesar 99 kg, mas a gente comemora o que tem, né? E eu estava precisando desse gás pra dar um ânimo.

Envolveu uma disciplina que não estou muito acostumada a ter: chegar em casa todos os dias e preparar TUDO o que eu ia comer no dia seguinte: o café da manhã, o lanche da manhã, o almoço e o lanche da tarde. Levar toda a marmita pro trabalho no dia seguinte, comer no trabalho todos os dias, abrir mão de socializar com os colegas na hora do almoço. Mas o resultado foi esse aí.

Agora, como eu falei, vou contar a provação maior desse período. Sábado passado teve uma festinha de criança para ir. Vou passar as informações necessárias para que vocês tenham noção do que eu passei. Sábado passado foi a Virada Cultural em São Paulo. E eu, como se sabe, moro no Centro. Ou seja, fiquei meio ilhada em casa, com as ruas interditadas, sem poder sair com o carro. A festinha foi no Ipiranga. Então peguei o metrô e um táxi até o prédio onde seria o aniversário. Até aí foi tudo bem.

Chegando lá... Era um buffet de pizza... Aquele cheeeeeiro de pizza, todo mundo tomando vinho, cerveja, comendo bolo e brigadeiro. E eu tomando um copo de água depois do outro. Saquei meus dois rolinhos de queijo e peito de peru e mandei pra dentro. Só que é muito, muito difícil ficar 4 horas num lugar assim passando por isso, especialmente para quem não está acostumado a se privar de comida. Chegou uma hora em que eu estava com fome e cansada e só queria ir para casa.

Mas... Como eu disse, estava rolando a Virada Cultural, então a única forma de chegar em casa era de metrô. E eu precisava chegar até o metrô. E estava numa rua residencial, onde não passava táxi. Então não tinha como ir embora. Esperei minha amiga para me dar uma carona até o metrô. Com foooome, dor de cabeça. Mas... Como eu disse, pela terceira vez, estava rolando a Virada Cultural... Aí o metrô estava lotado e um clima de bagunça pesada. Desci com a minha pequena no meio da multidão e... A saída do metrô que fica perto da minha casa estava fechada. A pequena cansada, com medo, eu cansada, com fome e a gente tentando atravessar uma multidão de 4 milhões de pessoas para chegar em casa.

Bom, levou 40 minutos com ela chorando e eu tentando controlar meus nervos, mas, enfim, chegamos em casa, sãs e salvas. E eu não saí da dieta. A recompensa veio em forma de calça jeans. Explico. No Dia dos Namorados do ano passado ganhei do marido um casaquinho com corações (own, ti fofo) e uma calça jeans. O casaquinho serviu, mas a calça... Não passava nem do meio da coxa. Resolvi não trocar a calça e deixar ela lá, para o dia em que finalmente tivesse coragem de começar a dieta. Quando comecei, provava a calça a cada 2 ou 3 kg perdidos. Então vi a calça subir mais um pouco, passar no quadril e os dois botões se aproximando. Até que nesta semana ela por fim fechou. Um ano depois vamos comemorar o Dia dos Namorados com a calça que ele me deu. É bobo? I guess, but I don't care.

Bom, deixo vocês de novo com a comparação da foto. A primeira é a de hoje e a segunda, do ano passado. E ainda faltam 9 kg para bater a meta do ano. Então, mesmo que este blog tenha cada dia menos leitores, ele vai continuar.

See you!


terça-feira, 14 de maio de 2013

Metade do primeiro terço

Eu já falei aqui 250.999 vezes que a dieta tá aí, seguindo seu rumo e que o problema começa com ál e termina com cool. Estamos todos cientes disso, né? Não tem mais o que dizer. Bom, o ano se aproxima da metade e a metade deste ano é também a metade do primeiro terço que estabeleci como meta para eliminar os 55 kg que se acumulavam em mim quando me joguei nessa empreitada.

A meta (não mais secreta) que tenho em mente é terminar 2013 com 90 kg, 2014 com 72 kg e 2015 com 60 kg. Sim, eu sei, é uma meta de longuíssimo prazo e difícil de tangibilizar. Mas eu sou assim. Gosto de planejar tudo para daqui a 20 anos: os cursos que eu vou fazer, as coisas que vou comprar, o rumo que vou dar para a minha carreira, os filmes que vou ver, os livros que vou ler e até os cursos que eu acho que o marido deveria fazer, coitado. Se as coisas vão sair conforme planejado são outros 500s. Muito provavelmente não, mas eu gosto de planejar. Para mim, o planejamento em si já é um processo divertido.

Mas agora, back to reality. Vamos a uma meta mais próxima: a verdade é que eu gostaria de chegar ao meu aniversário de 37 aninhos, em 5 de julho, pesando dois dígitos. Para isso, ainda preciso emagrecer 3 kg. Falta 1 mês e 20 dias. Dá pra fazer numa relax, numa tranquila, numa boa.

Neste final de semana enfiei o pé na jaca como não fazia há muito tempo. Na sexta mandei pra dentro um hamburgão e à noite tomei as minhas fatídicas 5 long necks. No sábado abocanhei um delicioso sorvete da baccio di latte e, no domingo, para fechar com chave de ouro, filei o almoço de dia das mães na casa de uma amiga. Bebi quantidades industriais de álcool e comi, comi, comi. Só coisa levinha, né? Nhoque, pernil, salpicão. Bêbada e empanturrada. Homer Simpson ficaria orgulhoso.

Na segunda o ponteiro da balança foi inclemente e subiu 1,8 kg sem a menor piedade. Eu poderia ter voltado à dieta normal, porque sei que em uns 4 dias estaria de volta ao peso de antes da esbórnia. No entanto, senti que agora, depois de mais de 4 meses, eu estava pronta para uma coisa mais power. Essa coisa de "sentir que tá pronta" é brega demais, né? Parece papo de celebridade B na Caras ou de gente esotérica. Mas, enfim, foi isso mesmo, senti que estava pronta.

Assim que saquei a dieta que a nutricionista havia proposto lá em janeiro e eu não tinha tido coragem de fazer. Relembrando: começa com um dia de dieta líquida, depois 15 dias sem carboidrato at all, depois mais um dia de dieta líquida, depois uma semana reintroduzindo alguns poucos carboidratos (frutas, basicamente), depois mais um dia de dieta líquida e, por fim, começa uma dieta com todos os grupos alimentares bem parecida com a que eu vinha fazendo.

Ontem foi o primeiro dia, com a dieta líquida. Passei bem. Hoje o primeiro dia sem carbo. Foi foda. Foda, foda, foda. Entenderam? Foda. Cheguei em casa fraca de fome. A nutri disse que são 3 ou 4 dias de desespero, depois passa. Vou acreditar nela. Eu venho fazendo as coisas apenas do meu jeito há muito tempo e não necessariamente dá sempre certo, então vamos ouvir outra pessoa, especialmente uma que vive disso.

É isso aí. Se eu não voltar mais, é porque estou internada em algum hospício por ter enlouquecido com a falta de carboidrato. Um pão, pelamordedeus!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A pele que habito

O título deste post ia ser "Zona de conforto", mas, enquanto esperava o notebook ligar, me veio à mente esse outro título, que achei mais apropriado.Tudo isso para dizer que o tema deste post não está ligado ao filme do Almodóvar, mas a essa sensação de conforto e/ou desconforto na própria pele.

A palavra escrita é o território onde me sinto mais confortável na minha própria pele. Eu sento aqui com meu computadorzinho e o mundo desaparece por uns minutos. Sou capaz de uma concentração total, que não tenho na maioria das outras atividades que faço e que exigem, ao contrário, que eu seja capaz de dividir o foco em muitas coisas. Por isso escrevo este blog. No momento é este, mas já foi outro. E, antes dos blogs, escrevia diários. E, entre os diários e os blogs, escrevi vários textos de ficção que ficaram guardados pra mim mesma. Simplesmente preciso escrever.

Fora a escrita apenas algumas outras coisas produzem em mim esse sentimento de conforto. Uma delas é a água. Eu nado melhor do que ando e certamente infinitas vezes melhor do que corro. Não posso ver uma piscina que já me jogo. E fico lá, feliz e contente. Gosto da solidão da água, de não ouvir nada enquanto estou nadando, de me sentir deslizar, de ser leve na água. Meio parecida com a escrita, vocês não acham?

Por fim, meu último território é a comida. Comer, cozinhar, apetrechos de culinária, o ambiente da cozinha, produzir alguma coisa na hora (e ainda por cima gostoso), dividir com as pessoas, ter um momento agradável ali. Enfim, a comida é meu território e onde me sinto confortável na minha pele.

Nas últimas semanas tinha decidido dar um tempo do blog, porque não havia mais muito o que dizer. A dieta seguia o seu ritmo e eu vinha emagrecendo sempre um pouco. Os problemas continuavam os mesmos: o álcool semanal e a falta de exercícios. Ainda assim, perdi 12 kg ao todo. Sempre ali, contando as calorias, fazendo um esforço, saindo da minha zona de conforto, para usar essa expressão tão cara ao mundo corporativo.

Até que anteontem a gripe me pegou. E ontem e hoje, especialmente, ela me pegou de jeito. Fiquei com o pescoço duro, dor de cabeça, dor no corpo, febre, imprestável. Aí resolvi que ia parar de contar calorias por 2 dias e comer o que quisesse. Assim fiz, ontem e hoje. Resultado: 1 kg a mais. Implacável. Tipo um tapão bem dado na minha cara, para me lembrar que essa pele aí que eu habito foi o que me fez chegar até aqui.

E ela veio à tona no meio de uma outra situação que eu conheço bem: gripe e dor de garganta. Quem me conhece há algum tempo sabe que a minha garganta é uma entidade à parte. Tem a Alessandra Milanez e a Garganta. Quando essa dor se instala, eu sinto um desânimo imediato, porque sei tudo o que vem pela frente: a coisa vai piorando, piorando, piorando. Começa a afetar o ouvido, fico com tudo tapado, meio surda, uma tosse interminável, até que, por fim, me rendo e caio no antibiótico. São pelo menos dois meses às voltas com a Garganta. Essa situação de desconforto me jogou de volta por dois dias para os territórios em que me sinto melhor: a escrita e a comida.

Só que não pode, né, gente? Foi muito, muito esforço para emagrecer esses míseros 12 kg e eu não posso por a perder sempre que surge uma crise. Então beleza, vou voltar pro meu aplicativo de contar calorias e para o blog, que pode no máximo encher o saco dozamigo, mas pelo menos não engorda.

Amanhã estamos aí de volta, com café da manhã de 200 cal, almoço e jantar de 400 cal e outras 300 cal para distribuir entre os lanchinhos do dia. Com ou sem infecção na garganta. Favor deixar comentários motivacionais, que eu tô precisando.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Causa e efeito

Quando eu era uma estudante de filosofia, sempre me impressionava o fato de que alguns colegas "abraçavam" um filósofo e adotavam os seus pensamentos para a sua vida mesmo. Pensava que não poderia existir nada mais anti-filosófico do que isso, porque aí a filosofia deixava de ser um questionamento e passava a ser, assim, mais ou menos, quase como uma religião. 

Era duro lidar com isso especialmente quando se escolhe um pensador como Schopenhauer como objeto de estudo. Na época, as primeiras palavras que vinham à mente quando se mencionava Schopenhauer eram pessimista e niilista. Logo se inferia que eu também era assim e então me olhavam com aquele medo, como se eu tivesse uma doença contagiosíssima que fosse destruir toda a felicidade sobre a Terra. Logo eu, pobre de mim. Passei muito tempo rejeitando esse rótulo com todas as forças que pude encontrar.

Sim, estou longe de ser o que costumo chamar de otimista irracional, aquela pessoa que sempre acha que tudo vai dar certo mesmo quando está tudo uma merda. Por outro lado, acredito piamente que temos interferência no mundo e podemos deixar as coisas melhores ou piores. É verdade que Schopenhauer não estava exatamente tratando de questões tão cotidianas assim, mas não importa, não tenho obrigação de ter esse rigor teórico aqui.

Bom, vamos ao que interessa e, no final deste post, vou tentar dar um jeito de fazer alguma conexão maluca para que esta introdução aí de cima faça algum sentido e não seja apenas uma divagação sem lé com cré. Não sei se algum dos meus parcos leitores percebeu que eu não escrevi na semana passada. A verdade é que ainda não emagreci nada neste mês, mas não foi por isso que eu não escrevi. A esta altura do campeonato já entendi que, se eu persistir, vou acabar emagrecendo e que tem esses momentos de estagnação mesmo. Então não esquento mais.

O motivo de não ter escrito é que eu fiz um ultrassom na tireoide e apareceu um nódulo. Até conseguir uma consulta com um endocrinologista eu fiquei meio surtada. E minha vida ficou meio em suspenso durante esse período. Até que finalmente fui ao médico e ele me disse que não era nada e que 30% das pessoas da minha idade têm algum nódulo na tireoide. Ufa.

É verdade que tomei mais uma bronca de mais um médico, que me descascou porque eu não estou fazendo exercício, mas ainda assim pude finalmente soltar a respiração que tinha ficado suspensa por vários dias e voltei pra minha vida normal. Obviamente depois disso rolou muita auto-reflexão. A principal delas é sobre a relação de causa e efeito. Durante todos esses anos em que eu engordei, eu passava um tempo no mesmo peso e de repente dava uma engordada rápida, tipo um rali de ganho de peso. E sempre em momentos de stress. Embora não fizesse isso conscientemente, é óbvio que eu usava a comida e a bebida como válvula de escape.

E justamente agora estou entrando numa dessas fases de stress. Só que aprendi que as fases de stress fazem parte da minha vida e eu vou ter que aprender a conviver com ela de uma forma que não me destrua. Sem comida e sem bebida. E, para piorar, o marido tá estudando à noite, o que me obriga a voltar direto pra casa do trabalho T O D A S A S N O I T E S. Me sinto assim uma escrava cativa nessa vida casa-trabalho-casa. Detesto mesmo. Mas é assim que é e eu vou ter que aprender a ser feliz assim. E ser feliz fazendo dieta.

Bom, empiricamente já sei que o stress é pelo menos uma das causas do meu ganho de peso. Assim, me manter feliz é condição sine qua non para conseguir me manter na dieta. Aí lembrei que, desde que minha filha nasceu, eu praticamente não fui mais ao cinema, que era uma das minhas grandes paixões. Isso quer dizer que eu perdi todos os filmes bons (e os ruins também) produzidos nos últimos 5 anos. Fiz uma lista: tenho 65 filmes pra ver nos próximos meses. Já ocupa um tempo, não? Depois posso fazer uma lista de livros que gostaria de ter lido e não li. Assim, além de ficar longe das minhas válvulas de escape tradicionais, tenho a chance de ficar um pouco menos burra. Ou não, a conferir.

Desta vez, portanto, vou abandonar Schopenhauer e adotar um outro filósofo, David Hume, que tratou da relação de causa e efeito e de como podemos conhecê-la apenas pela experiência e nunca a priori. Por sorte, neste caso, tenho bastante experiência. Não falei que ia dar um jeito de fazer um link maluco com a introdução filosófica toscona deste post?

Bom, portanto não se assustem se no próximo post as referências forem cinematográficas. E vamo que vamo, que eu ainda tenho dois quilinhos inteiros para perder nos próximos 17 dias.

P.S. - Marido me manda deixar registrado que ele sempre me apoia na dieta. Tá aí, anotado.