quarta-feira, 13 de março de 2013

Causa e efeito

Quando eu era uma estudante de filosofia, sempre me impressionava o fato de que alguns colegas "abraçavam" um filósofo e adotavam os seus pensamentos para a sua vida mesmo. Pensava que não poderia existir nada mais anti-filosófico do que isso, porque aí a filosofia deixava de ser um questionamento e passava a ser, assim, mais ou menos, quase como uma religião. 

Era duro lidar com isso especialmente quando se escolhe um pensador como Schopenhauer como objeto de estudo. Na época, as primeiras palavras que vinham à mente quando se mencionava Schopenhauer eram pessimista e niilista. Logo se inferia que eu também era assim e então me olhavam com aquele medo, como se eu tivesse uma doença contagiosíssima que fosse destruir toda a felicidade sobre a Terra. Logo eu, pobre de mim. Passei muito tempo rejeitando esse rótulo com todas as forças que pude encontrar.

Sim, estou longe de ser o que costumo chamar de otimista irracional, aquela pessoa que sempre acha que tudo vai dar certo mesmo quando está tudo uma merda. Por outro lado, acredito piamente que temos interferência no mundo e podemos deixar as coisas melhores ou piores. É verdade que Schopenhauer não estava exatamente tratando de questões tão cotidianas assim, mas não importa, não tenho obrigação de ter esse rigor teórico aqui.

Bom, vamos ao que interessa e, no final deste post, vou tentar dar um jeito de fazer alguma conexão maluca para que esta introdução aí de cima faça algum sentido e não seja apenas uma divagação sem lé com cré. Não sei se algum dos meus parcos leitores percebeu que eu não escrevi na semana passada. A verdade é que ainda não emagreci nada neste mês, mas não foi por isso que eu não escrevi. A esta altura do campeonato já entendi que, se eu persistir, vou acabar emagrecendo e que tem esses momentos de estagnação mesmo. Então não esquento mais.

O motivo de não ter escrito é que eu fiz um ultrassom na tireoide e apareceu um nódulo. Até conseguir uma consulta com um endocrinologista eu fiquei meio surtada. E minha vida ficou meio em suspenso durante esse período. Até que finalmente fui ao médico e ele me disse que não era nada e que 30% das pessoas da minha idade têm algum nódulo na tireoide. Ufa.

É verdade que tomei mais uma bronca de mais um médico, que me descascou porque eu não estou fazendo exercício, mas ainda assim pude finalmente soltar a respiração que tinha ficado suspensa por vários dias e voltei pra minha vida normal. Obviamente depois disso rolou muita auto-reflexão. A principal delas é sobre a relação de causa e efeito. Durante todos esses anos em que eu engordei, eu passava um tempo no mesmo peso e de repente dava uma engordada rápida, tipo um rali de ganho de peso. E sempre em momentos de stress. Embora não fizesse isso conscientemente, é óbvio que eu usava a comida e a bebida como válvula de escape.

E justamente agora estou entrando numa dessas fases de stress. Só que aprendi que as fases de stress fazem parte da minha vida e eu vou ter que aprender a conviver com ela de uma forma que não me destrua. Sem comida e sem bebida. E, para piorar, o marido tá estudando à noite, o que me obriga a voltar direto pra casa do trabalho T O D A S A S N O I T E S. Me sinto assim uma escrava cativa nessa vida casa-trabalho-casa. Detesto mesmo. Mas é assim que é e eu vou ter que aprender a ser feliz assim. E ser feliz fazendo dieta.

Bom, empiricamente já sei que o stress é pelo menos uma das causas do meu ganho de peso. Assim, me manter feliz é condição sine qua non para conseguir me manter na dieta. Aí lembrei que, desde que minha filha nasceu, eu praticamente não fui mais ao cinema, que era uma das minhas grandes paixões. Isso quer dizer que eu perdi todos os filmes bons (e os ruins também) produzidos nos últimos 5 anos. Fiz uma lista: tenho 65 filmes pra ver nos próximos meses. Já ocupa um tempo, não? Depois posso fazer uma lista de livros que gostaria de ter lido e não li. Assim, além de ficar longe das minhas válvulas de escape tradicionais, tenho a chance de ficar um pouco menos burra. Ou não, a conferir.

Desta vez, portanto, vou abandonar Schopenhauer e adotar um outro filósofo, David Hume, que tratou da relação de causa e efeito e de como podemos conhecê-la apenas pela experiência e nunca a priori. Por sorte, neste caso, tenho bastante experiência. Não falei que ia dar um jeito de fazer um link maluco com a introdução filosófica toscona deste post?

Bom, portanto não se assustem se no próximo post as referências forem cinematográficas. E vamo que vamo, que eu ainda tenho dois quilinhos inteiros para perder nos próximos 17 dias.

P.S. - Marido me manda deixar registrado que ele sempre me apoia na dieta. Tá aí, anotado.

6 comentários:

  1. E assim mesmo Ale, dias bons e dias nao tao bons... e assim vai... nao desanime...bjkas

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  2. Ô menina inteligente sô! Adorei seus escritos! Anota aí que eu também apoio sua dieta. E olha que eu tenho cacife pra isso, hein? Sou mãe de sua amiga...rsrs...

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  3. Ale, mais uma vez adorei o post. Fiquei rindo horrores das pessoas te olhando estranho por conta do Schopenhauer!!! Eu já olhei meio enviesado para uma amiga, durante a universidade, que não largava "o mundo como vontade e representação". Aliás, eu amo esse título! Também tive um susto em um exame no final do ano passado, estou me tratando e tentando ser feliz. Que a disposição te invada e que vc descubra logo um tipo de atividade física que lhe agrade. Que tal começarmos com uma caminhada fazendo o roteiro de um graffiti tour?! : ))

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  4. Oi, lê. Eu gosto de fazer exercício, genuinamente. Só não tenho tempo mesmo. Ou acordo às 5h da matina, o que honestamente não consigo fazer.

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  5. Me fez lembrar da minha primeira consulta, antes de perder os 25kg (estacionados): "Aprenda a viver no caos, senhora Flavia. Stress, medo e ansiedade são tratados do décimo quarto (terapia), aqui no segundo eu lido com seu código genético, e que não tem conserto". Bora na luta pra chegar na meta.

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